quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ouço, mas não escuta nada...


Ter dois ouvidos ás vezes pode ser tido como uma maldição...
Quantos desaforos eu sou obrigada a ouvir, tanto papo sem sentido ou tantos desatinos em português...

Isso me incomoda de um jeito... (tudo bem, eu sei que qualquer coisa no mundo me irrita!), mas não sou obrigada a saber da vida dos outros e na realidade nem quero!
Mas também não tenho escolha as pessoas praticamente gritam no meu ouvido, me tornando uma pessoa indigesta de tanta babaquice, de tanta falta do que falar...
E nem é preciso ir muito longe pra se ouvir essas "besteirinhas ao pé do ouvido ", é simplesmente sair de sua zona de conforto, e voilá, você já faz parte de uma conversa da qual não precisaria presenciar...
O que aconteceu com o dito "entre quatro paredes"? Será que do outro lado da conversa a pessoa sabe que está sendo exposta? De uma certa forma isso é culpa dos novos costumes que temos no cotidiano...
Aprendemos a dar "uma espiadinha na vida alheia", e nem temos vergonha de sermos tachados de fofoqueiros, porque o que mais nos importa no momento, é saber quem será a próxima celebridade instantânea que irá surgi nas colunas sociais...


Estou atrasada de novo...

Todo santo dia, fico à mercê de um sistema politizado fracamente com recursos mal gerenciados.
Mas antes de reclamar, veremos pelo lado positivo, utilizar transporte público muito colabora com o meu intelecto, afinal de contas sabedoria popular é muito abragente, isso para não dizer cômico...
O que se pode fazer...

Haverá os cínicos que dirão "o seu problema é falta de gerenciamento de tempo".
Concordo, porquê não...
Mas também é fácil falar do que não sabe...
Ao meu ver, meu problema é falta de dinheiro em abundância, dinheiro necessário pra usufruir de uma infra-estrutura melhor e me proporcionar conforto e toda comodidade para se viver bem confortável...

Têm otimistas que acham que isso vai melhorar algum dia (acreditem, otimistas são como ratos e baratas, de onde menos se espera, eles aparecem), sinceramente a tendência é piorar a cada nova pessoa inclusa no mundo. Com mais pessoas no planeta, maior se torna a necessidade de tudo e qualquer recurso de cumo social, sendo exceção a gentileza, a boa educação e de castigo de mãe...

Pra que me preocupar se a tv se encarrega de educar o meu filho, a internet me coloca em qualquer parte do mundo, sem nem mesmo eu estar lá, a saúde é simplesmente algo que se pode comprar (como tudo na vida, pra se ter algo de qualidade um pouco melhor, você é obrigado a pagar um extra por fora!), meus amigos eu faço em redes sociais onde não sei se são gordos ou magros já que nunca os vi na vida...

Então, porque devo me preocupar...
Aí vão dizer "ué, tem celular, tem TV por assinatura, Internet, então do que ela reclama?"
De tudo, CÃO... de tudo!!!

Hoje, tudo na vida nos é jogado como prêmio de consolação por temos uma vida tão corriqueira, tão funcional, pragmática, e ainda sim, tão necessária. O que eu vejo e que parece que ninguém mais vê, é que apesar de toda comodidade com tanta tecnologia, ainda vivemos como grandes gladiadores em nossos colizeus particulares, presos a uma política de pão e circo.

Já não somos gladiadores e muito menos heróis, somos palhaços (peço desculpa agora a todos os palhaços da minha infância e é claro aqueles que ainda nutri a minha essência, com Charles Chaplin, e até mesmo os palhaços da minha vida como irmão e amigos.) E o pior disso tudo é que já nos acostumamos a sermos...

Como diz a música dos titãs "NÃO HÁ NADA QUE VOCÊ NÃO SE ACOSTUME, CALA A BOCA E AUMENTA O VOLUME, ENTÃO", ai me pergunto até quando?
A questão dos outros eu não sei, mas no meu caso, dure somente até a minha demissão!!!!!

domingo, 10 de julho de 2011

Eu, etiqueta

Abaixo um poema de Carlos Drummond de Andrade...



Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo, ou de de cartório, um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete da bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca do cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. Meus ténis é proclama colorido de alguma coisa não provada por esse provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, ou abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar a minha identidade, troca-lá por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser, eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim-mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição...

Agora, sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente), e nisto me comprazo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê la - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossicracias tão pessoais, tão minhas que no rosto espelhavam, e cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrina me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece com signo de outros objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem.

Já não me convêm o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.


Carlos Drummond de Andrade, corpo.